The Alienist e a (des)construção da mente psicopata

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“I’m an alienist. That is a doctor. But instead of 
looking to cure a disease of the body,
I look to help those who suffer from an illness of the mind.
Sometimes society looks upon people as crazy.
It may only mean that they are alienated from their own true natures.”
The Alienist 




Eta que faz tempo que eu não postava!
Vou tentar ser mais frequente, vou tentar ser mais frequente, vou... Tá bom então.

Acabei de encerrar o último episódio da nova série da Netflix, The Alienist. E EU FIQUEI TÃO NO HYPE que preciso escrever um pouco sobre ela pra ver se organizo as ideias aqui na cabeça.



Pra quem não tá ligado, The Alienist entrou no catálogo da gigante de streaming nessa última quinta-feira, 19 de abril. A série, que conta com humildes 10 episódios de 1h, é um thriller psicológico que narra a caçada por um assassino em série na Nova York de 1896. SIM, menos de dez anos depois do caso do nosso amiguinho Jack the Ripper (Jack o Estripador) em Londres. A produção é baseada no livro homônimo de Caleb Carr, publicado em 1994 - o primeiro de vários seguindo as investigações do protagonista.

Na história acompanhamos o Dr. Laszlo Kreizler, um psiquiatra da época, quando o termo psiquiatra em si ainda não existia. E AÍ QUE VEM O NOME DA SÉRIE MERMÃO, porque eu não fazia ideia, mas Alienista é como denominavam os médicos dos "doidos" naquela época, uma vez que estes mesmos pacientes eram considerados "alienados" da natureza real deles. Conhecimento inútil muito legal do tipo que eu gosto muito de adquirir, obrigada de nada. Ele passa a série inteira catando um serial killer - quando esse termo também nem existia direito - que tá matando umas crianças de forma rude e expondo elas por NY. No meio do caminho ele forma uns migos muito legais e viram tipo o time do Scooby Doo. qq

MAS FALANDO SÉRIO... Logo no primeiro episódio não tem como não se apaixonar pela fotografia da série e a ambientação dela. Foi tudo muito bem pensado visualmente. Deve ter saído uma nota pra produzir he-he-he. A história é envolvente e tu te apega bastante nos personagens logo de início; fica curioso pra saber mais sobre eles, assim como sobre o caso. Pra quem já curte dramas policiais e de investigação, The Alienist é um prato cheio. O legal é que pra quem não curte esse estilo, ela também pode cair no agrado, tanto pela estética como pela narrativa.

Os episódios seguem de forma linear, mas possuem pequenas passagens de tempo entre eles algumas vezes. Toda a história fecha muito bem, e te deixa querendo uma segunda temporada. E além de tudo, ela pode te deixar refletindo, como aconteceu comigo. Veja bem, antecipamos tanto a resolução do plot central - captura do assassino -, que na hora em que esse fato acontece pode ocorrer a sensação de "ah, foi só isso", como senti aqui. Mas aí depois de reflexões, além de claro o episódio final não acabar no exato momento da captura do cara né, comecei a me dar conta que o foco principal da história sempre foi o desenvolvimento pessoal de cada um dos protagonistas a partir dessa caçada e tentativa de compreender a mente criminosa em questão. Era fazer refletir sobre o quanto lidar com essa realidade dura e sangrenta em primeira pessoa pode deixar marcas, ou questões que mesmo hoje, séculos - literalmente - depois do período que se passa a história, é inconcebível aceitar, como o fato de que alguém tenha a sede de matar sem piedade. 

Achei incrível a forma como Dr. Kreizler representou o início dos estudos comportamentais de mentes assassinas. As frustrações em entender, a forma como ele assimilava as causas desse comportamento e as cicatrizes de infância ou passado que levam uma pessoa à cometer crimes que atentam contra a vida de outra pessoa. Só por ter exposto esse início das pesquisas psicológicas e psiquiátricas além do termo "loucura" tão usado na época, esses dez episódios já mereciam minha indicação. Ter um elenco bom e personagens riquíssimos em história só ajuda a facilitar minha decisão de dizer VÃO ASSISTIR SAPORRA LOGO GALERA.

Destaques de personagens:


Sara Howard, interpretada por Dakota Fanning: A primeira funcionaria mulher de uma delegacia de polícia, ela trabalha como secretária para o recém empossado comissário Theodore Roosevelt. Com um passado sombrio que vamos descobrindo ao decorrer dos episódios, ela é tudo menos a Manic Pixie Dream Girl* como poderíamos esperar dentro do contexto da série. Não só o estereótipo da mulher "à frente do seu tempo", ela surpreende em diversos discursos nos episódios. Um exemplo marcante e que me surpreendeu foi em uma cena onde ela [SPOILER, SELECIONA O TEXTO PRA LER] é ameaçada sexualmente por um funcionário da polícia enquanto saía do local de reuniões da equipe e esperei - mesmo inconscientemente - que o "interesse romântico" dela iria obviamente aparecer por trás do cara e fazer ele sair de perto dela à força. Mas nada acontece. Podemos ver no olhar dela o pânico, mas ela não responde nem recua, e ninguém vem salvar ela. A cena corta assim. Foi muito simbólico e marcante pra mim em relação à posição da personagem dela na série não sendo apenas "a cota feminina". E gente, A Fanning interpretou tão bem o papel que não tem como não se apegar nela. Incrível, forte, a representação que toda mulher realmente quer ver nas séries que gosta de assistir.


Theodore Roosevelt: Vamos começar dizendo que é sensacional a inserção de personalidades reais na narrativa ficcional. Dá um ar de macab pra história e te faz ir pro google pesquisar se houve mesmo um caso sangrento assim e o autor só reproduziu no livro. Ele é claramente um personagem com boas intenções, mas que está sem o apoio necessário para fazer as mudanças as quais anceia. Ele é fundamental na história e sempre acaba racionalizando e percebendo que a visão "tão criticada" do médico alienista é inovadora e, normalmente, correta. Acho que é um personagem de apoio sensacional e que serve como contraponto para a grande maioria contrária às ideias dos protagonistas.



*Manic Pixie Dream Girl é um termo cunhado para descrever um personagem clichê das produções cinematográficas e literárias. Seria aquela personagem feminina que parece protagonista mas na verdade não tem uma plot line própria, e seu total objetivo é participar da linha amorosa e preencher as lacunas entre a história principal, que gira em torno do homem. Ela seria aquela menina simples de um livro de romance que se apaixona pelo bad boy e o livro todo gira no esforço dela em viver com ele - percebe que ainda assim é sobre a vida dele como bad boy e ela apenas sendo inserida na realidade dele? Normalmente as Manic Pixie Dream Girls giram em torno da vida do protagonista e pouco nos aprofundamos na história delas. É muito comum no cinema hollywoodiano. Citando alguns exemplos mais conhecidos: Bella (de Bella e a Fera, onde ela é a protagonista mas o foco é o romance e ela descobrindo a fera e o amor entre eles e ela "curando" ele); Summer (do filme '500 dias com ela'. A personagem é forte e ótima, mas foi explorada apenas como interesse amoroso e o foco do protagonista); Margo, de Cidade de Papel, etc. Normalmente essas personagens entram para mudar a vida do cara e é isso aí, acaba aí a função delas no desenvolvimento da história.




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